Páginas

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Amor-vampiro

Apesar de tentador, um amor-vampiro pode causar muitas cicatrizes...
Por Beth Valentim • 19/12/2008

Eu achava que era dele. Acordava com uma aflição enorme em meu coração - ele batia forte, descompassado. Meus olhos ficavam cegos em torno das lembranças de nós dois. As pessoas ficavam perplexas com minha vitalidade. Era como se estivesse contaminada por algo que não conhecia. Sentia-me a mulher mais interessante que existia. Fugia de problemas, queria viver só o lado bom da vida - e ele era a parte boa dela. Era a melhor coisa que tive, o calor mais quente que me invadiu. Subia aos céus nas noites que ficávamos juntos. O sexo era de matar. E que beijos!

Queria entrar pelo seu peito, já não me bastava ser sua. Meu coração queria encontrar o seu, ser possuído. Fazia de minhas vontades as suas. As horas eram poucas quando nos deitávamos, sempre querendo mais. Daria meu sangue pelo dele, para que corresse em minhas veias.
Foram meses de pura loucura. Magia de caldeirões experientes. Poções mágicas guardadas em tesouros. Cada pitada era usada em nossos encontros. Aos poucos, fui percebendo que sem o seu amor, eu deixaria de existir. Sentia-me estranha, triste, melancólica. Sonhos que havia construído? Para quê? Eles não me dariam aquela doida sensação que penetrava em meu corpo...

Sentia, porém, que algo de humano tinha ficado para trás. Isso mesmo: eu virei uma "morta-viva". Fazia sexo todos os dias e por horas. Dormir? Claro que não! Como podia perder tempo, não estando com ele? Perdi o controle de tudo. E a realidade me acenou por um instante: eu amava um vampiro! Era sua vítima. Fiquei esvaziada. Seu fantasma me atormentava. Fui devorada, passando também a ser uma devoradora. Só com ele conseguia sobreviver.

Mas como todo vampiro, este também era cheio de segredos. Depois de submetida a muitas "mordidas", veio a verdade: sua noiva chegaria de uma viagem. Nesse momento, percebi que ele tinha se saciado comigo, sua solidão foi preenchida pela minha companhia. Deixei-me ser dominada, mas sua fome devoradora tinha acabado. Tornei-me um tormento para mim mesma. Tinha sido vampirizada. E agora, o que faria de minha vida? Ele se foi, e nem mesmo possuía o meu sangue. Nada corria dentro de mim que não fosse dele. Com a cara pálida de quem se alimenta do sangue dos outros, ele disse: "Se me quiser, vai ter que ser desse jeito". Voltou para o lado dela. Nem se deu conta do sofrimento que eu sentia. E por acaso vampiros têm alma?

E são covardes também. Se tivesse me contado a verdade, eu poderia ter opção. Só que ainda restavam algumas gotas de força dentro de mim. É bem verdade que meu pescoço já possuía as marcas de suas garras cruéis - percebi que tinha dado minha vida a um homem-vampiro, sem dignidade - mas uma lança perfurou o meu coração e, como reza a lenda, "renasci". Sangrei. Chorei. Mas libertei-me do vampirismo que sofri. Segui em frente e tentei não mais sentir sua presença.

Foi duro. Cada noite vazia era preenchida com suas mãos imaginárias sobre o meu corpo. Dediquei-me ao trabalho. Superei. Em parte, eu sei. Depois de um tempo, ainda pensava em seus olhos que me hipnotizaram. Escutava suas palavras. Imagens criadas pela loucura de quem sufocou um amor-vampiro. Aprendi que eu me permiti ser vampirizada. Não criei defesas e atravessei vales escuros, pronta para ser atacada por alguém que só deseja alimentar-se de outra vida para ficar de pé, que desfruta da ingenuidade do outro.

Depois dessa lavada em minha alma, segui em frente. Desfiz-me da mania de estar sempre achando que só sendo inteiramente de um homem seria feliz. Exercitei a auto-estima para poder fazer escolhas melhores. Estou aprendendo a decifrar os enigmas dos sentimentos que me deixam tola, preparando-me para uma nova história de amor, menos radical e mais racional. Aceitei a minha condição de mortal, e ele desapareceu de minhas lembranças. Assumi a responsabilidade em ter dado meu sangue como seu alimento. E agora sei: um vampiro só consegue sobreviver se alguém for sua vítima.

Se, ao ler esse texto, você perceber algo familiar em sua vida amorosa, desperte! Reflita sobre o porquê de continuar tendo um homem-vampiro ao seu lado. Aquele que cala a sua boca, que não lhe escuta nem dá o amor e atenção que merece. Usa, abusa e depois se despede. Vai trancar-se em sua tumba e "viver" suas histórias macabras. Fuja das armadilhas de um amor-vampiro. Faz adoecer, arrasa os seus sonhos. Deixe as desventuras de lado e supere essa terrível história, em que alguém imagina poder ter a outra para sempre. Como? Esvaziando-se.

Dica: esteja alerta aos sinais. Eles existem! Na maioria das vezes os rejeitamos. Eles dizem muitas coisas... Uma delas é quando alguém não nos merece.


Beth Valentim é psicanalista e escritora. Possui mestrado em Psicologia Social e é autora dos livros "Essa Tal Felicidade", da editora Elevação e "Mequiel - O Caçador de Sonhos", da editora Dunya.

Um comentário:

É um prazer ter você por aqui! Veja bem vindo(a) sempre, deixe seu recadinho e se você tiver blog deixe seu link para que eu possa comentar em seu blog e seguir... Não esqueça de me seguir também... bjs e volte sempre

Danny Thais

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...