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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

No Barzinho da Moda

Os desdobramentos de uma traição no dia seguinte às 8 da manhã
Por Rosana Caiado • 02/02/2009

Domingo. Quando o telefone toca, são oito da manhã. Penso: "Só pode ter acontecido alguma desgraça".

Do outro lado da linha, uma amiga: - Você não sabe!
- Aconteceu alguma desgraça? - pergunto.
- Ainda não, mas pode acontecer.
A amiga me conta que, na noite anterior, viu o colega de trabalho, casado há dez anos com uma mulher linda com quem tem três filhas fofas, atracado à estagiária.
- Onde? - pergunto.
- No Barzinho da Moda!
- Logo no Barzinho da Moda... O que você fez?
- Fiz olhar de reprovação! Que mais posso fazer?
- Contar para a mulher linda!
- Aí ela perdoa o marido e eu viro a vilã da história.
Desligo.
Quinze minutos depois, estou escovando os dentes de trás quando o telefone volta a tocar.
- Você não sabe quem acabou de ligar.
- Quem? - pergunto.
- O colega de trabalho.
- O que ele disse?
- "Não comente com ninguém o que você viu ontem à noite. Tenho um casamento feliz. Por favor, pense na minha família".
- Ou seja: "Pense nas minhas filhas fofas".
- Ele não pensou mas eu tenho que pensar!
- Se ele tivesse pensado, teria ido direto para o motel. Trair no Barzinho da Moda é imperdoável.
- Em qualquer lugar é imperdoável!
- Mas se tivesse ido direto para o motel, ele não estava te enchendo o saco no domingo, às oito da manhã.
Desligo.
Quinze minutos depois, estou cortando o pão ao meio quando o telefone volta a tocar:
- Você não sabe quem acabou de ligar.
- Quem? - pergunto.
- A mulher linda!
- O que ela disse?
- "Promete que, se um dia você vir o meu marido, com quem estou casada há dez anos e com quem tenho três filhas fofas, atracado à estagiária no Barzinho da Moda, vai me contar?"
- E você?
- Prometi!
- Está certa: depois ela perdoa o marido e você vira a vilã da história. 

Desligo.
Quinze minutos depois, estou lendo a segunda parte do jornal quando o telefone volta a tocar
- Quem te ligou agora? - pergunto.
- Eu que liguei dessa vez.
- Para quem?
- Para a estagiária!
- E o que você disse?
- "Na próxima, por favor, vá direto pro motel".

Desligo.

Por via das dúvidas, não voltaria nunca mais ao Barzinho da Moda. Ou poderia acontecer alguma desgraça.


Rosana Caiado nasceu no Rio de Janeiro, em novembro de 77. Desde então só quer ser amada. É devota do amor à primeira vista, do amor eterno e do amor após o matrimônio. Seu primeiro amor foi a publicidade, depois flertou com o jornalismo e veio a casar de véu e grinalda com a dramaturgia. Para fugir da rotina, faz aulas de jazz e dança de salão, inventa moda, joga charme e escreve no blog Pseudônimos. Leia mais deste autor.

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